Ana Maria Primavesi
Valor biológico é a possibilidade de a planta formar todas as substâncias de que é capacitada geneticamente. Assim, trigo deve formar proteínas e antes de tudo glúten, para possuir alto valor de panificação. Trigo adubado somente com NPK e com deficiência de micronutrientes consegue formar poucas proteínas. A maior parte dos aminoácidos circula livremente na seiva vegetal. Este trigo é biologicamente incompleto, menos nutritivo, com menor valor de panificação e menor resistência a doenças.
O café forma somente poucas substâncias aromáticas; no milho, os grãos ficam ricos em amidos, com aparência farinhenta, mas são pobres em proteínas.
Por quê?
Uma planta necessita 45 nutrientes minerais (pode ser até mais dependendo do solo e da espécie vegetal). Destes, mais ou menos 16 são essenciais ao desenvolvimento e frutificação. O restante não consideramos “essenciais”, são necessários para a formação de proteínas, açúcares complexos, substâncias aromáticas, vitaminas, corantes, toxinas para a defesa vegetal, etc. Se eles faltarem, as plantas crescem e frutificam, mas são sem valor, sem sabor, sem defesa e resistência.
Dividem-se em macro e micro nutrientes. Os macro nutrientes são os que se necessitam em grande quantidade; os micro nutrientes ( e a maioria pertence a estes) usam-se em pequenas quantidades, às vezes somente em traços, que geralmente são ativadores de enzimas (substâncias que catalisam processos químicos, ou seja, ajudam nestes processos sem entrar neles). Sem enzimas, estes processos também ocorrem, mas muito lentamente. Assim, uma reação com enzima demora 2 minutos; sem enzima, leva 3 horas. Deste modo, uma planta que não possui enzimas ativas é pobre em relação ao que poderia ser se tivesse enzimas funcionando. As enzimas são proteínas enriquecidas por uma vitamina, a coenzima, e ativadas por um metal, que pode ser um macro nutriente como potássio ou magnésio, ou um micronutriente como boro, cobre, manganês, zinco, cobalto, molibdênio, níquel, chumbo ou outros.
Graças à nossa tecnologia, conseguimos produzir frutas, grãos e verduras de formas apresentáveis e perfeitas. Mas parecem caixas sem conteúdo. Todas as substâncias que fizeram sua riqueza, seu conteúdo e gosto atualmente existem só em quantidades mínimas.
Há pessoas que aconselham comprar somente as frutas e raízes menores, as verduras defeituosas e desiguais, porque acreditam que assim seriam integrais. Mas pergunta-se: como podem ser melhores se foram criadas idênticas aos outros, com a mesmíssima tecnologia? Por que de uma lavoura convencional de tomates, pimentão, alface e cenouras, os pequenos e deformados devem ser melhores? São tão ruins como os grandes e bonitos mas são ainda piores porque são o refugo, impregnados com agrotóxicos e tão pobres e sem gosto como os grandes.
De terras sadias saem produtos sadios, grandes, bonitos. Se “biológico” somente significa “sem adubo” e a terra onde é cultivada é decaída e gasta, esta visão pode ser exata. Mas nem por isso é lamentável e errônea porque de solos decaídos não saem produtos biologicamente integrais.